"Escrevo-te, caro benfiquista, não para te desejar sorte na segunda-feira, mas para dividir contigo a antecipação do prazer de um grande jogo. Escrevo-te a ti, que vibras com o jogo sabendo que ele só é a coisa mais importante da tua vida durante aqueles 90 minutos. Escrevo-te eu, a ti. Eu e tu, que nada temos a ver com claques de frustrados que teimam em tentar estragar a nossa festa. Que não somos representados por dois vices que na sua vida profissional não se destacaram pelos escrúpulos e que procuraram nos clubes a respeitabilidade que nunca souberam merecer fora deles.
Por duas horas nos insultaremos sabendo da infantilidade dos nossos insultos. E por isso mesmo pondo verdadeiro empenho neles. Na manhã seguinte, tu me humilharás ou eu te humilharei na troca de galhardetes no café. Ou em casa, para quem, como eu, viva com benfiquistas. Saberei respeitar a tua deceção ou tu saberás respeitar a minha. Por uns minutos depois do jogo acabar. Cinco minutos. Dez, vá. Não reconhecerei uma única falta que não nos tenha sido marcada. Terei olho de lince para cada falta vossa. Sim, porque os lances, os golos e as faltas serão “nossos” e “vossos”. Que no futebol somos nós que estamos no campo e o plural majestático fica-nos bem. Perante a vitória, viveremos um dia histórico. Perante a derrota, saberemos pôr a coisa em perspetiva e desvalorizar mais um jogo. Um simples jogo.
Escrevo-te porque, antes do dérbi, a palavra é de claques de rapazes sem nome, antigos polícias-cowboys que nem por serem do meu clube me merecem respeito e antigos políticos de segunda que na bola encontraram o refúgio para a sua mediocridade. Depois falarão, provavelmente, eles de novo. Mas durante aqueles 90 minutos a festa é nossa. Nós, que simplesmente gostamos de futebol."
By Daniel Oliveira, in record 06/04/2012
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