Que música escutas tão atentamente
Que música escutas tão atentamenteque não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de tique tudo canta ainda?
Queria falar contigo,
dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fiocom que teces os dias sem memória.
Com que palavrasou beijos ou lágrimasse acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,parcimoniosamente,
no meio de sombras?
Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,sentada,
olhando as rosas,
e tão alheiaque nem dás por mim.
Eugénio de Andrade
(Coração do dia)
4 comentários:
Muito, muito bom.
grande poeta!
Eugánio já nos deixou, mas ficam as palavras!
Muito bonito.
Um abraço.
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